sexta-feira, 6 de março de 2009

POLMANA

Por: Rodrigo Gevegir
Livro: “Omissos e Omitidos na Historiografia: Os Ciganos.”


É por demais sagrado e de suma importância o rito da Pomana (polmana) entre os ciganos. Um rito com influências orientais.
A morte como para qualquer pessoa seja ela a etnia que for sempre é motivo de tristeza e saudades.
No antigo Egito encontraremos um comportamento social, psíquico e religioso do qual se preparavam para a morte, se vivia com extrema preocupação da vida além túmulo.
Os pertences do moribundo egípcio, objetos necessários seguiria com ele a longa passagem para a vida posterior e eterna. Os faraós ao partirem (morte) levavam em seus túmulos todos os serviçais, objetos, jóias, adornos, trono tudo para que seguisse com ele para o mundo espiritual, ou seja, ancestral.
Os ciganos têm receio da morte, contrário aos egípcios, não falam deste assunto, e proferir o nome de um falecido é questão de respeito e cuidado, mas no passado seus mortos levavam consigo seus pertences, assim como no Egito antigo.
O Cigano se exclui da idéia de morte, uma espécie de esquecimento proposital.
Os grupos Kalons portugueses usam um rigoroso luto, ás vezes por anos, as mulheres não tiram os lenços da cabeça, não se penteiam os homens não fazem as barbas, cobrem se espelhos.
Ciganos Kalons Ibéricos deixam barba e cabelos crescerem por anos e viúvas cortam as tranças e enlaçadas a flores e fitas, depositavam nos caixões de seus falecidos, “ única ocasião em que a mulher cigana corta os cabelos”. O cabelo lançado ao caixão representava um símbolo de fidelidade ao ex-marido. Não ai se casando, as que faziam eram exclusas da vida social da comunidade.
Há um verdadeiro desgosto e expressão de gestos na hora do sepultamento, acreditamos que o espírito do morto continua a existir (o mulo - alma), em seu velório exposto uma vela acessa.
A pomana acontece exatamente para acalentar o falecido para que ele descanse em paz em sua nova condição ancestral, a pomana colabora para o muló entrar na eterna vida, reino dos mortos e para os vivos se protegerem das energias do mesmo que deve seguir seu percurso sem estarem vagando, não se cantam cantos fúnebres como se é mencionado, pois é momento de tristeza, há lamentos.
O grupo Rom em certas regiões da Europa Oriental, moedas de ouro eram postas nos olhos do morto para que o mesmo pagasse o barqueiro em sua passagem, o que nos lembra a cultura grega, outros tampam as narinas com cera de abelha para afugentar os maus espíritos.
O corpo era purificado em unção de azeite, ao ser sepultado jogam moeda e dinheiro. Ao sair do funeral a família e amigos lavam as mãos antes de saírem do cemitério (quando enterrado no mesmo). É oferecido a todos os familiares e amigos próximos a pomana, no sétimo dia, ritual de almoço ou jantar onde se colocado a mesa as comidas doces que o falecido mais gostava de comer, pois por 40 dias o espírito permanece na terra, dependendo do clã este ritual é repetido em seis semanas, seis messes até um ano. Não se expressa mais o nome do mesmo, vínculos são excluídos (pertences).
Todos os homens se ocupam a mesa ficando vazia a cadeira do falecido, sendo o mesmo servido e logo após os restos jogados a um riacho. Pode haver uma pessoa representando o falecido, mas é raro.
Quando se visita sepultaras (geralmente após um ano, os ciganos repetem este ato da pomana, comendo no local onde o mesmo fora sepultado) poderá se encontrar velas, vinhos, bebidas, alimentos às vezes flores.
Em períodos de nomadismo companhias, caravanas ateavam fogo na carroça do falecido, com seus pertences. (a pedido do mesmo).
Geralmente não se morre em casa, se acontecer à família poderá se mudar se for tenda será posto o defunto a uma tenda reservada para o memo.
Um cigano (a) nunca morre sozinho, sua família, seus amigos podem estar longes todos vem, e um cigano mesmo sem endereço encontra outro rapidamente onde a notícia correrá a todos. Ao levarem o caixão sempre em número impar, pois todo cigano sempre acreditou no sobrenatural independente de seu culto religioso.
A pomana não é uma festa e sim um ritual de respeito e seriedade milenar, ancestralidade, onde orações em romani serão proferidas e seguidas pelas gerações vindouras.